segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Verdades nunca serão ditas.






Idem alegoria da caverna,
me vejo a escapar da condição
como um aluno a passar de lição
guiado por uma vontade eterna.

Sentí-me mais queimado que tição
ou alguém que passaram-lhe a perna.
Sobreviví na Filo da taverna
absorvendo ação e reação.

Estou entre aqueles que merecem
reconhecido como o que evita.
Depois de viver coisas que enaltecem

prefiro me expressar de forma escrita
pois fatos são passados que esmorecem
e a verdade nunca será dita.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Soneto de eclipse solar

Soneto de eclipse solar.


Até o Rei dos astros( quem diria!)
As vezes se esconde atras da lua
iluminando sua costa nua
e racionando aqui, sua energia.

Secretamente mas de forma crua
por tras da lua que era muito fria,
dá seu calor enquanto aqui de dia
o breu entorpecidamente acua!

Aqui na terra seu brilho é secreto
mas para os astros é mais-que-perfeito
pois ele brilha n'outro dialeto.

Ignorantemente penso: "É seu jeito
de esconder-nos o obsoleto
e atrair a lua pro seu leito".

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A morte da filosofia.







Desgraça! Preconceito! Vil falácia!!
Agora vejo a vã filosofia
se entregar da noite para o dia
e transformar-se numa linda acácia.

Já não indaga nem se degladia,
perdeu todo seu brilho e audácia.
Se transformou em uma linda acácia
e entregou-se enquanto o peito ardia.

Sócrates optou pela cicuta:
Pensou, pensou e escolheu a morte
pois a filosofia não traz sorte.
Transforma o homem num filho da puta

e o amor em um monstro macabro
que faz sofrer mais que cristo na cruz.
Transforma o infeliz num avestruz,
esconde a luz e quebra o candelabro.

Assim o ser se perde nos caminhos
do abandono. Muito deprimido
ele vai procurar o comprimido
que irá libertar o passarinho.

O alcool é o veneno qu'eu escolho
que mata-me aos poucos mais, ai!...mata!!
pois eu não tenho sangue de barata,
é dente por dente, olho por olho.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Eu era um porco sensual.



Eu era um porco.
Minha condição era péssima pois no sítio onde eu era criado, a ração faltava, o chiqueiro era mínimo e os meus companheiros faziam um barulho desgraçado!
Não existia nada além da lama, dos grunhidos intermináveis e do pisa-pisa oferecido pelos meus compatriotas de chiqueiro.
O único prazer era o de comer a pouca lavagem que nos era oferecida.
Nada mais além do que isto.
Percebi que me diferenciava dos outros quando notei que meu olfato era mais sensível e  conseguia sentir antes de todos, o cheiro da lavagem podre a muitos metros de distância. Além disto, já tinha notado que nosso dono tinha mania de jogar a lavagem em um determinado canto do chiqueiro o que me dava vantagem em todos os sentidos. Logo que sentia o cheiro, posicionava-me em um lugar estratégico e a minha vantagem  era visivelmente superior a de todos. Era eu quem sentia mais prazer naquele chiqueiro!
Como o único prazer era o de comer e o meu destaque era superior, levando-se em conta que a gula era o sentido maior que dominava, eu era o porco mais sensual do pedaço!
Comecei a sentir a diferença quando meu senhor começou a me tratar de uma maneira totalmente diferenciada. Ele notava minha inteligência e minha percepção!
Foi ele que me tirou daquela condição degradante e mostrou-me o que havia além da lama e dos grunhidos.
Fui levado do chiqueiro num dia de sol forte. Depois de uma reconfortante ducha de água fria, fui mostrado para pessoas que nunca tinha visto antes, todos sorriam felizes e olhavam para mim como se eu fosse a jóia mais rara deste mundo.
Adorei!
Começaram a beber freneticamente como se estivessem comemorando algo muito importante e, num determinado momento, amarraram-me as patas e me deitaram numa mesa grande que tinha forte cheiro de sangue.
Foi neste momento que aconteceu!
Todas as pessoas que estavam me cercando ficaram paradas como estátuas, abriu-se uma brecha no meio do nada e, de lá, surgiram as cinco mais estranhas criaturas que eu vi em minha vida!
A primeira era tão magra e alta que parecia mais um inseto, um grilo. Mais branca do que uma pedra de mármore. Ele me tocou e seu toque era gelado e cortante. Seu nome era Medo. Falou-me assim:
- Estais vendo aquele rapaz com uma faca afiada na mão? Será ele teu algoz. Nada pode mudar isto! Chegou teu fim!
Fui dominado pelo medo! Ele sumiu e o tempo voltou a correr como de costume. O rapaz se aproximou de mim com um olhar assassino e impiedoso. Comecei a tremer compulsivamente prevendo o destino terrível que iria me acontecer!
Ele se aproximou de mim, segurou minha cabeça com uma mão e com a outra ia desferir um golpe em meu pescoço até tudo parar novamente.
Vieram duas irmãs siamesas cambaleando e chorando. Eram perturbadas e bizarras ao extremo. Não possuíam pêlos no corpo nem apresentavam sinal de compaixão.
Se apresentaram como Agonia e Dor.
Disseram-me que meu maior erro foi ter sido sensual e iria pagar por isto sentindo com grande intensidade toda agonia e toda dor impostas pelo meu algoz.
Assim que elas desapareceram, fui atingido no pescoço por uma facada e dei um berro capaz de fazer inveja ao mais gritante de meus companheiros de chiqueiro!
Que dor terrível que senti naquele momento!
O sangue esguichou de minha veia e a agonia de sentir minha vida se esvaindo foi algo tão forte que não poderia descrever aqui.
Tudo parou novamente.
A quarta criatura que me apareceu foi a mais perturbadora possível.
Seu nome era terror. Sua boca era amedrontadora, seus dentes pontiagudos, possuia 3 olhos e falava me mordendo. Suas palavras eram as mais terríveis possíveis e seu hálito gelava minha espinha. Falou de todas as coisas ruins que o homem é capaz de fazer e isto foi a coisa mais aterrorizante que já tinha escutado em minha vida. Como pude confiar no monstro chamado homem?
Assim que Terror saiu, meu senhor por algum motivo, desferiu uma marretada em minha cabeça tão forte e dolorida que comecei a chorar e evacuar de tanta dor.
Meu sangue nem tinha se esvaído todo e eu, ainda consciente, vi quando eles vieram com um balde de água fervente e jogaram em cima de meu corpo moribundo. Começaram a me pelar ainda vivo e em meu último suspiro, recebi a última e pior de todas as visitas. Era uma porca muito bela e falante que deitou-se ao meu lado e se apresentou como a minha consciência.
Disse que ia ficar toda a eternidade ao meu lado me dizendo o que fazer e o que não fazer sem que eu pudesse fazer nada.
Realmente, eu não pude fazer nada.
Eu estava morto e morto não  faz nada!



Rildo Aragão em 26/12/2010.

Arte moderna



Arte moderna.

Vamos dançar como dançam os mortos
Vamos bailar como bailam os tortos
que não obedecem alguns dos sinais
e desrespeitam os simples mortais.

A liberdade de um morto-vivo
supera a farsa em que sobrevivo
trazendo a tona uma milhar imersão
Pedras que Rolam  é  religião.

Vamos mudar como mudam  os portos
Vamos falar como falam os mortos
Vamos nascer como nascem abortos
Vamos pensar como pensam os surtos.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Soneto de apresentação


Soneto de apresentação.


Não me atrai falar de qualidades!
Prefiro os defeitos mais fudidos
pois estes ficam sempre escondidos
a sete chaves, assim tú não sabes.

Tem patrão que comete atrocidades,
judia do operário desnutrido
pra depois um michê acometido,         
comer seu cú sem dó nem piedade.

O pessoal da elite e o povão
estão fazendo merda o tempo inteiro:
Não se arrependem nem pedem perdão.

já que é assim, acuso um réu faceiro.
Ele se chama Rildo Aragão:
Poeta, marginal e maconheiro.